Em entrevista ao Conexão Bett, professor traz uma reflexão sobre a
necessidade de redesenhar os processos de aprendizagem nas salas de aula e
o potencial da Inteligência Artificial na educação
O conceito de transformação da Educação no país e no mundo é complexo,
uma vez que possui diferentes vertentes defendidas por alguns e atacadas por
outros. Porém, um argumento pode ser considerado consenso porque é um
simples fato: o futuro não pode ser represado ad infinitum, ou melhor, as
inovações que estão chegando - ou ainda estão por vir - não podem ser
evitadas.
Um dos pontos que é muito discutido nos últimos anos, em especial com as
novas gerações nativas digitais, é a necessidade de mudanças na configuração
do aprendizado na sala de aula. Para o professor e cientista-chefe da TDS
Company, Silvio Meira, o baixo engajamento atual dos alunos é um sintoma que eles perderam o interesse em aulas resumidas a apenas a transmissão de
conteúdos, com fórmulas ‘repetitivas e chatas’, sem experiências práticas.
"A aula expositiva para a vasta maioria dos alunos morreu. Precisamos
redesenhar o processo de aprendizado sem a aula", disse Meira em entrevista
ao Conexão Bett. Na visão do professor, o modelo de aula precisa estimular o
professor no papel de construção coletiva de conhecimento e englobar uma
combinação do físico, digital e social.
“A educação no momento é a burocracia do aprendizado. É fundamental que a
gente articule a presença física com a expansão para o digital orquestrada pelo
social. Isso é a proximidade física, com uma disponibilidade, por exemplo, de
oportunidades de aprendizado online, articuladas com a dimensão social da
realidade, onde conectamos com as outras pessoas (socialização)”, completa o
professor.
Ele também usa o exemplo do filósofo e pedagogo John Dewey, em seu livro
‘Experiência e Educação’ de 1938, para pontuar a necessidade da adoção de
novos processos de aprendizagem. “Se a gente aplicar os conceitos de Dewey,
apresentados há quase 100 anos, e usar um espaço de inteligências, onde tem
a inteligência individual, a social - as pessoas em grupo, inclusive o professor -
e a artificial, que pode ser utilizada para analisar o comportamento de uma
turma inteira ou de múltiplas turmas, ou de milhares de alunos ao mesmo
tempo. A IA pode ajudar a determinar os níveis de aprendizagem de cada
aluno, assim podemos incentivar aqueles que estão indo bem a buscar novas
discussões e prestar atenção para trazer para a média os que estão abaixo do
entendimento”, explica Meira.
O professor ainda afirma que o objetivo não é formar só alunos medianos.
Queremos que todo mundo aprenda de preferência no mais alto nível e com a
maior diversidade possível. A IA pode muito bem servir para isso e não está
limitada a perguntas para o ChatGPT. Isso não é o potencial da IA e, sim, um
mal uso de inteligência humana combinada com inteligência artificial”, disse
Meira, também professor extraordinário da CESAR School, emérito do Centro
de Informática da UFPE e um dos fundadores do Porto Digital.
O potencial da Inteligência Artificial (IA)
O professor também comenta sobre o potencial ainda a ser explorado da
Inteligência Artificial (IA) na sociedade e na área de Educação. Meira pontuou
que as ferramentas de IA que estão “assustando” as pessoas atualmente são
apenas máquinas probabilísticas treinadas por grandes volumes de informação
textual e imagética que respondem a provocações iniciais, calculando com uma
certa probabilidade alta de acerto qual é a próxima palavra que faz sentido, e
assim por diante, com a primeira palavra que foi gerada é calculado de novo
qual é a próxima palavra com mais alta probabilidade de fazer sentido naquele
contexto.
Ele comparou o status do nosso conhecimento sobre a IA com uma novela. “Se
a IA fosse uma novela, a gente não saberia ainda nem quem são os principais
personagens e como é que a história vai começar a se desenrolar. Nós
estamos no começo do começo, não é o meio do começo e nem o fim do
começo. Acredito que a hora é prototipar, é de tentar, é de testar. Temos que
tratar a IA como um jogo novo que estamos iniciando no nível zero, onde
estamos aprendendo ainda como os comandos do controle funcionam, e seguir
até os níveis mais avançados”, destacou.
O professor afirma que a IA pode oferecer a maior oportunidade de todas as
nossas vidas, uma vez capazes de descobrir como usar a Inteligência Artificial
com mais uma dimensão da inteligência, criando junto com as inteligências
individual e social um novo espaço estratégico e de escolhas para criar,
colaborar e agir em conjunto, empoderados pela IA. “Sob essa ótica, ainda
bem que está acontecendo exatamente aqui, em toda a internet e para todo
mundo”, finalizou Meira.
Para os educadores que estão de frente com o desafio de introduzir os
recursos de IA na sala de aula, o professor é taxativo em dizer: “Percam o
medo das ferramentas de IA. Tenham a certeza de que vocês não sabem como
usar, nós (sociedade) não sabemos como usar, esse é o fato. Isso vai evoluir
radicalmente nessa década e irá alcançar uma velocidade cada vez maior.
Portanto, tragam seus alunos para aprender juntos”.
Ele ressalta que a grande vantagem de um professor é que ele pode dizer que
não sabe, mas que sabe como aprender. “Os professores não são
enciclopédias vivas, eles são seres humanos que foram treinados para
aprender coisas novas em contexto e para fazer o que não sabem e nunca
viram. Eu tentaria aprender em conjunto com os meus alunos, errando e
aprendendo junto com elas e eles”, finaliza Meira.
Além do Youtube, o Conexão Bett também está disponível nas principais
plataformas de áudio, como Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Amazon
Music e Google Podcasts, entre outras.
O programa de entrevistas é mais um espaço de diálogo da Bett Brasil com
diversos especialistas, que trazem um ângulo diferente dos assuntos mais
relevantes e atuais do setor educacional. Ative as notificações na sua
plataforma favorita para ser avisado sempre que tiver novo episódio.
Texto publicado originalmente em: Bett Blog
Imagens para divulgação
Crédito da foto: divulgação Bett Brasil
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